sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Encontros no Campo Belo

Meses atrás  meu filho Pedro foi tocado pela violência da nossa cidade. Num dia voltando do futebol,  um percurso de 2 quarteirões entre o clube e o meu escritório, aqui no Campo Belo, sofreu uma tentativa de assalto. Três meninos com praticamente a mesma idade dele disseram: Passa tudo! O que, no caso, para nós parece nada. O que um menino de 10 anos teria ao voltar do futebol?  Shorts, camisa, meião e chuteira. Isto era tudo, tudo que os pequenos ladrões queriam. Naquele momento Pedro, cheio de coragem, empurrou, correu, sofreu. Perdeu a inocência, creio que até hoje olha diferente para as ruas deste bairro. Quem já sofreu um assalto ou roubo entende o que estou falando.

Cerca de dois meses depois em um campeonato que o Pedro fora convidado participar (perdão pelo orgulho paterno, para um menino de 10 anos, ele joga muito bem! ), entre times de ONG’s e ministérios com crianças carentes encontramos o Mateus. Mateus era o menino que havia dito: Passa tudo!! Enchi-me de justiça e fiquei de olho em tudo. Meu filho se preparou para entrar na quadra e eu tinha que deixá-lo por lá até o final da tarde daquele dia. Mateus e Pedro ficaram se olhando desafiadoramente e, não perdi a viagem, me aproximei e com toda minha força na voz e com olhos ameaçadores falei: - Escuta aqui o moleque se você se meter com meu filho de novo você vai se ver comigo!! Procurei o treinador do menino contei a história e aconselhado pelo amigo treinador, com o coração apertado, deixei meu filho de apenas 10 anos no meio de um monte de meninos iguais ao Mateus. Confesso que foi uma tarde de grande agonia. Vencida a tarde voltei a tempo de ver o Pedro jogar a partida pela decisão de 3.o e 4.o lugares.

Assim que cheguei o treinador me procurou disse que Mateus era um menino sofrido que a vida não havia dado muitas oportunidades. Mãe presa, pai assassinado, tio traficante, etc. Estavam trabalhando com ele pois ele tem tudo para acabar trabalhando no trafico. Contou também que Pedro e Mateus haviam conversado e que o Mateus havia pedido perdão ao Pedro, que tudo estava bem. Pedro mal podia esperar para me contar como foi a conversa. Sentamos juntos para ver o ultimo jogo e... Sabe quem chamei para sentar ao nosso lado para ver o jogo? Mateus. Resolvi por a mão no ombro dos dois, do meu filho, e do menino que semanas atrás havia tentado roubá-lo. Mateus se aconchegou em mim, meu coração quase explodiu de compaixão por aquela criança que não saiu de perto de mim nem por um segundo até que fomos embora. Restauração emocionante, nós três conversamos animadamente os lances daquele jogo. Disse aos dois: - Pela coragem de resolver a situação eu iria pagar um almoço para nós. Pastel na feira na semana seguinte. Mateus não veio no dia e hora marcados.

Nesta quarta, na feira, encontrei o Mateus. Cumprimentamo-nos rapidamente e perguntei: - Porque não veio no dia marcado? Respondeu: Tio fiquei doente, não pude vir e fiquei com vergonha de te procurar depois!! Paguei um pastel para ele, dei o dinheiro na mão dele que, assim que pagou, trouxe o troco. Disse: - Falei com todo mundo na favela que o Pedro que joga no time do Campo Belo é meu amigo, pra ninguém mexer com ele...

Lembrei agora que o Mateus original, de quem o menino Mateus herdou o nome, o Mateus da Bíblia. Ele não era uma pessoa com quem as pessoas normais se relacionavam, era um cobrador de impostos, seus amigos eram os piores daquela sociedade. Era desprezível e desprezado, até que encontrou com Jesus.  Sua história mudou, ele se tornou um dos 12 apóstolos. O coração de Jesus transbordou de compaixão por aquele Mateus, o coração de Jesus transborda de compaixão por este Mateus. O coração de Jesus transborda de compaixão por mim e por você...

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